6 de maio de 2012

quando você crescer


por luíza diener


quem, quando pequeno, nunca ouviu a famosa pergunta “o que você quer ser quando crescer”?
eu já tinha a resposta na ponta da língua.
pra mim sempre foi uma resposta muito óbvia que me acompanhou por anos, até chegar a época do vestibular.
na hora de selecionar a opção de curso eu marquei sem pensar duas vezes: veterinária.
bicho sempre foi minha praia. sempre amei, adorei, venerei.
sonhava em ter cachorro, mas meus pais conseguiram me driblar com peixes, hamsters, coelho, periquitos, chinchila, pintinhos de feira. peguei cachorros e gatos na rua inúmeras vezes, mas eles nunca ficaram.
por volta dos oito anos ganhei uma poodle que não durou nem dez meses.
aos quinze finalmente tive um cachorro que foi meu caso sério de amor. ficou comigo até meus vinte e quatro anos, quando ele nos deixou, literalmente.
mas voltando à veterinária, sempre tive plena e absoluta convicção da minha escolha.
tentei o vestibular uma, duas vezes. não passei.
escolhi um curso mais fácil de passar: engenharia florestal.
ok, combinava comigo, visto que envolvia prantas, minha opção secundária por ordem de gostância.
não deu certo.
pensei em fazer biologia, zoologia, biologia marinha.
não?
então vamos pensar nas ciências humanas e afins.
que tal comunicação social? posso ir pra área da publicidade, ou até mesmo jornalismo.
por que não pedagogia? eu podia vira tia daquelas quiança remelenta tudo.
ah, posso fazer administração e abrir uma empresa.
se bem que eu gosto da área de exatas. acho que vou voltar pra engenharia.
esquece faculdade. vou tentar os caminhos alternativos.
virei adestradora. treinei cachorros de todos os tipos, temperamentos e tamanhos.
pastor alemão, mastim napolitano, labrador, golden, dálmata, dobermann, pit bull, stafordshire, weimaraner, rotweiller, buldogue, yorkshire.
praticamente uma cesar millan fêmea brasileira.
tomei a minha primeira mordida. de quem? do york, claro.
e eu adorava, pirava, chegava em casa exausta e feliz. dormia e acordava pensando em cachorro.
ok, vou montar minha própria empresa de adestramento. não deu certo.
mas vou me embrenhar pro mundo dos negócios.
que tal confeccionar roupinhas pra cachorro?
não durou nem dois meses.
e um esquema de distribuição de frutas, legumes e verduras em domicílio?
nem seis meses.
ah, então eu vou virar barista. adoro fazer café, tenho um olfato apuradíssimo e habilidade com a coisa. mas eu não gosto de café.
nem um ano.
então vou voltar pra engenharia florestal!
“olha, você pode voltar, mas só se não trancar mais nenhum semestre e se suas notas forem ótimas” – disse o coordenador de curso.
“combinado”
no dia seguinte me descobri grávida.
pois é, grávida. daquelas com concentração zero. imagina eu. não conseguia nem decorar um número de telefone. fazia uma coisa de manhã e à tarde já tinha esquecido.
cheguei ao ponto de começar a almoçar, me perdi no labirinto dos pensamentos poluídos por excesso de amor, e esqueci que estava comendo, esqueci que estava no restaurante e de repente me perguntei: por que e o que é que eu estou mastigando?
agora magina eu, a grávida louca, fazendo cinco a seis matérias por dia, numa faculdade que costumava me ocupar o dia inteiro, tendo que tirar notas ótimas sem poder repetir uma matéria sequer e não poder trancar o semestre. se eu não conseguia isso antes de engravidar, té parece que ia dar conta grávida.
vou não, posso não, quero não, meu bebê não deixa não.
então tá decidido. esquece faculdade de novo.
vou ser mãe em tempo integral. vou ser mulher, mãe, dona de casa e esposa feliz.
aham tá bom, cráudia. senta bem ali.
e eu sentei no trono da gonorância jurando que ia dar conta.
no quinto mês de gravidez a louca pediu demissão.
“agora vou cuidar da minha casa! em uma semana ela vai estar tinindo”.
passou um, dois meses, doze, quinze meses e hoje a casa está o caos completo.
agora to aqui, pedindo arrego, procurando uma empregada e preparando o tema pra parte 2 do post, que com certeza levará outro título.
(se isso fosse uma redação de vestibular eu negativaria a nota, com certeza)
mas já adianto que, se te consola, tô bem feliz.
besas

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